terça-feira, 27 de setembro de 2011

Meus olhos ficaram mareados ao ler esse poema e pensar em nós...

A contagem do amor

1,2,3,4,5:
na paisagem do tempo deixam vinco?

6,7,8,9,10:
a praia cada vez mais distante do convés?

11,12,13,14,15:
de tão longe, nem há rima pra "inze"?

16,17,18,19,20
só mesmo se houver muito requinte?

21,22,23,24,20 e ...
performance tão alta nunca vi?

Pois saibam todos vocês, entendedores
de amor, que por cima dos amores

transitórios, medíocres, sem garra,
um amor se levanta e não esbarra

nas ferragens do tempo, antes floresce,
a cada dia se aprimora e cresce

e viça e estende ramos frondejantes
sobre a tranquila face dos amantes

que se beijam no doce ritual
do grande amor fiel e atemporal!

em vinte e cinco rápidos e eternos
anos-minutos passionais e ternos,

amor meu, teu amor - a mesma intensa
pura exaltação, na sede imensa

de infinito que cabe num momento
de unidade perfeita, sentimento

de que não pode a vida, o tempo, a dor
aniquilar, querida, o nosso amor.

Carlos Drummond de Andrade 

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