quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ao meu capitão do céu estrelado...

Eu quero te contar
a minha vida,
espalhar na mesa
os vidrinhos as lãs
com que fiei meus sonhos
e te falarei dos meus infernos
e precipícios,
de quantas mortes morri
enquanto me olhavas no espelho.
Eu quero te falar
de longas esperas
em plataformas vazias,
te falar de um trem
que nunca chegava,
de um navio de areia
escorrendo entre os dedos.
Eu quero te contar
a minha vida
em suas insignificantes
nuances,
sem esconder os fantasmas
nos bolsos internos da alma.
Eu quero te contar
a minha vida,
no que ela tem de náusea
e desejo,
amassando as palavras
como se fossem de argila.
Eu quero te falar
dos ventos que embaralhavam
a casa,
das minhas caixas e cofres
das minhas magoadas estrelas.
Eu quero te falar
da minha vida
como se escrevesse em tua
pele
e me inscrevesse nela
porque em algum recanto
sombrio
a minha vida tem folhas,
que são da tua
e não me pertence apenas
o meu cotidiano,
é feito com a mesma
esgarçada renda do teu
e nesse lugar
à beira do imaginário
nos encontramos
e bebemos da mesma fonte.

Roseana Murray

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Outro poema lindo, que me faz pensar....

Eu tropecei estradas,
Escorreguei ladeiras,
Encharquei caminhos sob a chuva fina,
Suei picadas nas febres do mormaço,
Sustentei de poeira meu cansaço.
Da vida, fiz andanças,
Mochilas, fiz mudanças,andei!
Como molhei de suor meu coração!
Quanto, à deriva, pisei-me no meu pranto...
E caminhava mais!
Estrepes e espinhos marcaram cicatrizes
Na paisagem parda e sem matizes,
Onde o querer andar, desgovernado e trôpego,
Perdia-me no perdido dos caminhos.
Cansei!
Parei à sombra de uma vida
E, delirando, sonhei que era minha.

- Vem!
Eu fui!
Era um caminho novo, verde e lindo!
Desvairada corri, liberta e nua,
Abrindo os braços,
Enlouquecida, solta, céu e lua,
Para abraçar tu'alma!

Eu te tocava,quase,
Quando o caminho
Rasgou-se em dois atalhos:
Tu seguias por um, suave e leve,
E me apontavas o outro, gelo,neve!

Minha alma esgazeou-se.
Meu coração, vestido de mendigo,
Despertou suado, morno, empoeirado,
Na brisa velha de um velho vento antigo...

Mila Ramos